Objetivou-se investigar a percepção da criança vítima da violência física no meio intrafamiliar, analisando as nuances que estão por trás deste fenômeno. A violência física intrafamiliar é um tipo de violência de natureza interpessoal, na qual se verifica transgressão do poder disciplinador e coercitivo do adulto, reduzindo a criança ou adolescente à condição de objeto de maus-tratos. No acompanhamento aos atendimentos no Núcleo de Enfrentamento a Violência Contra a Criança e o Adolescente percebeu-se que muitos dos agressores são diretamente ligados ao menor, geralmente moram com estas crianças, são pais, padrastos, madrastas, irmãos, tios, entre outros. Assim, o ambiente que deveria ser considerado como seguro, propiciador de cuidados, carinhos, atenção, tem se mostrado perigoso, podendo ser talvez o lócus de pânico para muitas crianças. Estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa, realizado em duas Unidades Estaduais de Assistência à Criança, localizadas na cidade de Fortaleza - Ceará, nos meses de abril a novembro de 2007. Os informantes foram crianças vítimas de violência física no meio intrafamiliar. O instrumento de coleta dos dados foi a observação e entrevista semi-estruturada. Realizou-se análise temática de acordo com a convergência das falas, resultando as categorias temáticas: Instrumento da agressão; Razão da agressão e Significado da agressão. Os resultados levaram a compreender que os sentimentos que as crianças têm em relação aos agressores são complexos, mas resulta em comportamentos pouco convencionais a faixa etária. Conclui-se que o sentimento predominante nas vítimas de maus tratos físicos é o medo da nova agressão, medo das conseqüências da denúncia, medo da separação da família, medo do destino após a condição de abrigada, entre outros. A pessoa que passa por essa experiência pode ter feridas curadas, mas as cicatrizes permanecerão e farão relembrar os momentos difíceis vividos na infância. |